terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Sobre as diferenças do ser

Sou do tempo em que, para ser músico, você realmente precisava de boa música. Não reclamo da harmonia das músicas, mas das letras.

Está bem, reclamo das melodias também.

Sou do tempo em que, para ser músico, não bastava pegar um violão e sair tocando qualquer coisa. Era preciso estudar cada nota, saber cada figura e aprender a desenhar semibreves, mínimas, semínimas, colcheias e todos esses tipos em pausas também. Era preciso ler partituras, entender as escalas harmônicas.
Sou do tempo em que, para ser músico, era preciso persistência.

Sou do tempo em que sustenido era sustenido. Não jogo da velha ou quadrado.

Sou do tempo em que os aprendizes precisavam saber a diferença entre a clave de Sol e a clave de Fá.

A música era, de certa forma, respeitada. Todos entendiam a complexidade da arte e só descia pro play quem realmente estivesse a fim de fazer a diferença.

Hoje, ser músico é quase uma brincadeira de criança. Uma brincadeira banalizada. Todos tocam violão, todos compõem e todos cantam. O resultado é essa carga viral de lê lê lê, tchu tcha tcha, tãe tãe. O resultado é uma geração que não aprendeu o respeito pela arte.


Não sou músico. Nunca fui. Mas tentei. E lembro-me de ter percorrido um caminho longo, de muitas horas de treino e estudo teórico. Nunca entendi direito a diferença das claves. Também não contribuí com a arte, mas aprendi muito com a música. Com a boa música. Meu desejo é que as pessoas apenas reconheçam como ‘músicos’ aqueles que realmente são. E que, quem não é, permita-se ser diferenciado.

Nenhum comentário: