terça-feira, 29 de outubro de 2013

Tudo o que eu queria


Hoje eu não queria voltar para casa. Queria te ver. Queria buzinar no portão da sua casa, te ver sorrir e te beijar.

Hoje eu queria ficar naquela ponte, te observando falar, sob a luz de uma lua ainda não vista. Queria ficar contigo, só contigo, em um lugar em que pudesse te ouvir e te tocar por horas. Sem ao menos importar o horário.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Produção - Vazio

Chegou de mansinho. Veio pegando um espaço vazio e, em seguida, já era uma grande parte, que sabia para quê tinha vindo e como faria para incomodar.
Não sei o nome disso. Às vezes penso ser uma forma de abrir os olhos. Depois, penso ser uma forma de me entristecer, porque realmente isso tem funcionado.
O espaço vazio que tinha antes era mais feliz. Não estava preocupado, tampouco cansado ou agoniado. O espaço vazio, que tomou conta, maior e mais forte, é o contrário disso tudo. Entristece, preocupa, cansa e agonia.
Ainda não sei o nome disso.
Queria estar abrigado em um abraço forte e caloroso, com direito a silêncio e reflexão. Apenas queria transformar esse vazio incômodo em vazio meditativo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Produção - Saudade

Às vésperas do aniversário, sentia saudade. Mas era diferente. Dessa vez, sentia saudade de como as coisas eram antes. Os dias tinham sabores diferentes. Costumavam ser gostosos, coloridos. Antes, sentia o coração arder, o corpo tremer e o olhar se perder. Às vésperas do aniversário, não sentia mais isso.

Sentia saudade de como encarava as situações. Saudade de como as coisas aconteciam e das coisas que fazia sem pensar. Mas, sobretudo, sentia saudade de se sentir bem, de se sentir conquistador, de se sentir!

sábado, 10 de agosto de 2013

Produção - Dos meus olhos, no meu jardim


As crianças da rua da minha casa parecem não cansar. A todo momento, pelo menos nos momentos em que as vejo, estão correndo, brincando, gritando. São assim. Ligadas em 220 volts. É o que há de mais belo nesse período da vida. Ser feliz, apenas se preocupando em ganhar algum jogo, em fazer a lição de casa ou, no máximo, lavar a louça do almoço.
A beleza está nos olhos de quem vê, de quem já passou por esse período, de quem deseja voltar a ser criança. A beleza que só os corações ainda puros conseguem perceber de cara. A beleza que qualquer um consegue observar, se dedicar um tempo a isso.
No jardim dos meus sonhos, as flores são reais. Delicadas, suaves, em um tom de roxo diferente, mais vivo, mais bêbado. No jardim com o qual sonho, sinto cheiro de terra. Sinto o sabor do barro na sola do sapato e o cheiro do mato verde esquentado pelo sol.
No jardim com o qual sonho, enxergo a mim mesmo. Enxergo um futuro desconhecido, sem detalhes, sem algo formado. Enxergo beleza no que faço, mas é só. Não identifico formas, palavras, imagens claras ou suspeitas de movimentos. Apenas sei que escrevo. E, para mim, isso basta. Isso é belo, nesse exato período da minha vida e no futuro, creio. A beleza que procuro nos outros, nas coisas, nas cores, é a beleza que desejo traduzir em texto. Sem imaginações ou cenas construídas, mas com traduções da vida real.
No jardim dos meus sonhos, não desejo enxergar tristezas, mas sei que será inevitável. Às vezes, a dor também é bela porque faz crescer, faz ser. Ser alguém melhor, com uma visão melhor e caráter de gente. Caráter de gente que escreve para gente histórias de gente. A beleza está nos olhos de quem vê, mas é preciso saber enxergar. É preciso querer enxergar.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Produção - Relicário

A palavra machucava e ele não sabia o motivo. O significado dela lembrava o desejo infantil em ter um mapa do tesouro nas mãos e encontrar o ponto xis, onde encontraria um baú. Dele, tiraria todos os valores da sua vida. Não tiraria, apenas encontraria.
As relíquias ali escondidas o transformavam em mago. Mas nem sabia o significado dessa palavra. Procurava ser alquimista, mas não sabia o que um alquimista precisa fazer.
Relicário. A palavra ainda faz com que ele viaje no tempo e encontre um mago interior. Talvez, agora, entenda que o baú verdadeiro está dentro dele. E as relíquias são suas virtudes, escondidas no xis do mapa, escondidas no seu inconsciente.


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Produção - Espelho da alma


Rodrigo era um rapaz estressado. Na faculdade, sempre brigava com os professores por causa das matérias mal explicadas e trabalhos difíceis. Em casa, nunca acordava bem. Coitada da mãe, que sempre queria puxar assunto e acabava no vácuo, sem respostas ou apenas com “uhum”. No ônibus para a faculdade, ficava bravo com a quantidade de gente que ia em pé e as condições desumanas que a empresa de ônibus oferecia.
Não gostava de conversar. Sentava na poltrona do ônibus – quando conseguia – e se desligava do mundo quando colocava os fones de ouvido com a música no volume mais alto que podia. Sem exageros, Rodrigo era o homem mais carrancudo que aquelas pessoas já viram. Sorte delas que ele não tinha aula todos os dias. Sorte dele que ninguém puxava assunto. Odiaria tudo aquilo de cumprimentos e de se conhecer, investigar a vida dos outros e relembrar coisas inúteis do passado.
Foi numa noite chuvosa, daquelas noites que Rodrigo mais gostava, que ele conheceu uma garota que mexeu com seus sentimentos, o fez pensar que tudo aquilo, de estresse e braveza, não fazia sentido, que era preciso se abrir às pessoas, ser receptivo.
A garota alternava os movimentos entre digitar no celular e se maquiar. No pouco tempo em que estiveram juntos naquele ônibus, Rodrigo contou pelo menos sete vezes em que a garota pegou um espelho pequeno de dentro da bolsa. Ele a olhava pelo canto dos olhos, mas via perfeitamente os movimentos leves dela. Provavelmente, até o final do percurso – que durava uma hora – ele veria a garota fazer isso mais uma dúzia de vezes. “O que a incomoda?” Rodrigo não entendia. Todos naquele ônibus já estavam cansados de um dia inteiro de trabalho ou estudo. Alguns já dormiam, com os rostos amarrotados.
A garota pegou um creme da bolsa que parecia carregar o mundo. Passou nas mãos, esfregou, passou delicadamente nos cabelos. Rodrigo já podia sentir o perfume do creme exalando dos cabelos dela. Fechou os olhos e imaginou o que aquilo representava. Seria para ele? Para outro rapaz dali do ônibus?
Dormiu imaginando, sem coragem de tirar os fones e conversar com ela. Tímido, como nunca.
Quando acordou, a moça não estava mais ali. Tinha passado por cima das suas pernas e descido em algum ponto antes da faculdade. No banco do ônibus, a garota deixou cair o espelho. Rodrigo pegou-o nas mãos e enxergou alguém que ele já não conhecia. Enxergou um Rodrigo com o qual não gostaria de ser amigo, com o qual não gostaria de conversar, do qual teria até medo. Aquele espelho fez ele enxergar o que precisava mudar. Ele entendeu que precisava recuperar a aparência, mesmo que maquiando a tristeza com sorrisos e serenidade. Percebeu que o que incomodava aos outros era a mesma coisa que incomodava o seu jeito original de ser.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Produção - Afundando


Apenas sentia vontade de ficar só. Ficar só, mas com alguém. No quarto, chorava as mágoas, relembrando do passado, pensando nas pessoas que já passaram pela sua vida. Os amores perdidos, que saberia serem apenas paixões, fugazes e temporárias. Intensas, não extensas.
Ele queria alguém para cuidar. Tinha essa necessidade. Também queria ser cuidado. E tinha essa necessidade. Um aperto no coração tomava conta e a negra solidão invadia seus pensamentos. Mais negra do que a noite. Numa tristeza sem fim, passou horas e horas ali, no quarto, na cama, afundando em sentimentos, afundando em pensamentos, afundando seu corpo no colchão cada vez mais frio, afundando entorpecido pela dor, pela solidão, pelas vontades.
Com palavras, alguém machucou ainda mais. Com imagens, alguém cutucou uma ferida. Com atitudes, alguém acabou com seus sonhos. Bastou. A vontade aumentou. Precisa de alguém. Precisa de uma paixão. Precisa de um amor. Alguém que chegue e fique. Apenas em sua vida.

sábado, 11 de maio de 2013

Produção - O encontro


O tic-tac do relógio era quase imperceptível aos ouvidos, mas soava na mente daquele menino, que só queria fugir dali na melhor oportunidade. Com o coração acelerado, nem entendia o que a professora escrevera no quadro. Era a orientação para o tema de casa, mas isso não importaria naquele dia.
No seu relógio, 17 horas. Porém, o sinal da escola ainda não tinha batido. O coração, sim, batia mais rápido. As mãos suavam. As pernas criavam vida própria e não paravam quietas. De segundo em segundo, o garoto olhava o relógio. Era questão de tempo para a aula acabar, mas não sabia quanto tempo.
Subitamente, o som estridente despertou a sala de aula comportada e todos os alunos levantaram para guardar os materiais, exceto ele. O momento esperado chegou, mas, como em estado de choque, não sabia o que fazer.
Pensou em desistir. Deixar para outro dia. Fugir. Sair pelo outro portão. Retomou a consciência. Decidiu. Esperava por esse momento há tanto tempo, por isso não podia desistir.
Não queria demorar, mas parecia que seus movimentos eram cada vez mais lentos, contrários à rotação dos ponteiros do relógio. Foi o último a sair da sala. Manteve a postura confiante, como se essa não fosse a primeira vez. Na verdade, o corpo tremia. As mãos suavam.
No local marcado, encontrou a garota. Ainda de longe, provou o extremo dos sentimentos: admirava a menina mais linda da escola e temia não saber o que fazer. Levitava nos pensamentos e caía ao chão quando lembrava do encontro.
- Oi.
- Oi.
Não havia assunto. Não teria conversa. Em movimentos incertos, ele pegou-a pela mão. Olhou para o chão, tomou coragem e encarou os olhos verdes da garota tímida que também o olhava. Ela sorria lindamente, como uma princesa. E aquele sorriso iluminava ainda mais a sua pele morena. Nele, o sorriso nervoso se instalava.
- Não precisa, se você não quiser.
- Mas eu quero. E já faz tempo - disse o garoto.
Foi aí que ele viu os olhos verdes chegando mais perto. O corpo tremia ainda mais. Os lábios, aos poucos, se encontraram e ele se perdeu em meio ao beijo mais gostoso que já tinha provado. O primeiro beijo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Produção - Imagino

Imagino como seria a vida com você. Acordar todos os dias do teu lado, sentir tua pele quente encostada na minha e ter o prazer de te despertar com um beijo. Preparar o café e trocar carinhos entre um biscoito e outro. Desejar um ótimo dia de trabalho e dizer que estarei esperando para o jantar. Lembrar de você durante o trabalho, voltar para casa e te esperar para sairmos. Sim, tomar banho juntos, conversar sobre as conquistas do dia, as coisas positivas e negativas, e solucionar tudo com um beijo. Dormir ao teu lado, sentindo o teu cheiro, com teu corpo me aquecendo, em uma troca constante de energia. Imagino como será a vida quando eu realmente tiver você comigo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Produção - No alvo

Alguma coisa o incomodava naquela noite. E ele desconhecia o verdadeiro motivo. Podia ser que o jantar não tivesse caído bem, que tivesse assistido a um filme depressivo, escutado coisas ruins ou que tivesse conversado sobre assuntos desagradáveis. Poderia ser qualquer coisa, mas a razão por se sentir dessa forma vinha de uma mistura de lembranças, fatos e intuições. O resultado disso era o cansaço. Um cansaço diferente. Não físico, mas psicológico e emocional. Ele estava cansado de ser enganado, de não conhecer a verdade dos acontecimentos, de ser trapaceado e ainda ser rotulado de bobo, por relevar situações e continuar oferendo ajuda e amizade.
O mais complicado é que ele não compreendia esse cansaço, apenas sentia. Era um incômodo indescritível e sem razão. Em sua cabeça, pontos de interrogação. Em seu coração, exclamações, vírgulas, interrogações, reticências e um ponto final, que doía como uma flechada.

domingo, 5 de maio de 2013

Produção - Ciclo

As coisas sempre são boas no começo. Um olhar apaixonado, um comentário cheio de insinuações, carinhos, palavras doces e beijos gostosos. Com o tempo, tudo isso passa e você percebe que se meteu em uma enrascada. Uma cerca de arames farpados da qual não teve como desviar e se machucou. Sempre machuca. O ciclo começa bem e termina péssimo. É e sempre será dessa forma. Com qualquer um. "As coisas são assim. E, se será, será."

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Produção - Infelizes

Parou para pensar na vida, nos amores, nas cores, e viu que tudo o que aconteceu foi bom. Bom para aprender. Bom para entender que nada é fácil, que a vida dá e tira ao mesmo tempo. Dá direito ao amor e tira a razão da mente. Olhou para a tela do computador e decidiu abandonar de vez qualquer sentimento que ainda nutria. Desejou ardentemente que sejam felizes. Para todo o sempre. Infelizes.


domingo, 28 de abril de 2013

Produção - À flor da pele

Aquele homem o olhava. E aquele olhar era perdido, questionava, queria e, ao mesmo tempo, desistia. Era o melhor sentimento para um. Era o pior sentimento para outro.
Os movimentos de um surpreendiam o outro. Do jeito delicado de segurar a caneta aos movimentos com a boca, como quem alonga os músculos da face. O conjunto de um aumentava no outro o desejo em estar junto, em tocar e ser tocado. Sinestesia à flor da pele.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Coração na mão


Sabe, está doendo... Mais uma vez.
É uma mistura de coisas que eu queria dizer. Você sabe que eu te amo muito, que é uma pessoa especial, da qual eu nunca vou esquecer. Nem vou esquecer os momentos que vivemos juntos. Mas, por mais que eu já pressentisse, eu não esperava. Não dessa forma. Agradeço pela sinceridade, mas é justamente por ela que eu sofro.
Fico pensando nas últimas semanas, que eu tentei ao máximo sustentar isso. Acho mesmo que você não tentou como deveria. Não sei se não quis ou se não conseguiu. Sei lá, a gente não manda muito nos sentimentos... Quando você falava que nosso namoro era o que mais estava durando, eu ficava feliz. Porque no fundo eu achava que você também queria que isso continuasse, que durasse ainda mais. Está doendo muito. Respeito tua decisão, por mais que não queira... Mas de nada adianta continuar com quem não me ama.
Se eu consigo ficar bem? Não é questão de conseguir. Eu "preciso" ficar bem. EU AMO VOCÊ. Pena que não foi suficiente pra sustentar o teu sentimento também. Seja muito feliz.